A pensar numa realidade que agora corre risco de se repetir, a 26 de janeiro de 2020 a Comissão Nacional de Segurança da China divulgou os “princípios básicos para crises de emergência psicológica” na sequência da propagação da Covid-19, documento onde se menciona que os cuidados de saúde mental devem ser providenciados a doentes infetados, aos seus contactos mais próximos, aos casos considerados suspeitos isolados em casa e aos profissionais de saúde.
O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças refere, também no contexto Covid-19, que as pessoas que mais se podem sentir afetadas numa crise são aquelas que têm problemas de saúde mental preexistentes, incluindo o uso de substâncias, as crianças, e pessoas que estão a ajudar na resposta ao surto, como médicos e enfermeiros. Ao Observador, já antes Samuel Antunes, coordenador do Programa de Promoção de Saúde Mental nos locais de trabalho da Ordem dos Psicólogos Portugueses, assegurou que “vamos ter oportunidade de observar o impacto desta pandemia em termos de saúde mental nos técnicos de saúde que são os primeiro grupo de risco”.
A Organização Mundial de Saúde não está indiferente ao que se sucede e tem disponibilizado informação de maneira a contornar as questões de saúde mental em tempos de Covid-19 — informação essa que está também disponível e trabalhada no site da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Uma das questões a que a OMS tenta responder remete para a forma como podemos lidar com o stress durante este surto, admitindo que é natural que nesta fase as pessoas se possam sentir “tristes, ansiosas, confusas, assustadas ou zangadas”. Por esse motivo, falar com pessoas em quem confiamos pode ajudar, mas há mais dicas:
1. Como lidar com o stress no surto de COVID-19:
Já no que toca às crianças, a OPP esclarece que também elas podem sentir-se “tristes, ansiosas, com medo e confusas” na sequência do isolamento, motivo pelo qual existe maior tendência para fazer birras e mostrarem-se mais dependentes e irritáveis. Mais compreensão é, nestes momentos, pedida aos pais que devem aceitar a probabilidade de existirem mais conflitos do que o habitual. “Seja compreensivo e paciente perante estes comportamentos e tente resolvê-los rapidamente. Dê-lhes oportunidade para expressarem os seus sentimentos e receios. Explique-lhes o que se passa e tranquilize-as utilizando linguagem apropriada à idade. Explique-lhes a importância do isolamento e assegure-as de que são apenas alguns dias”, aconselha a OPP.
Em contexto de isolamento, os pais podem encarar este tempo como uma oportunidade para passarem mais tempo com os filhos e realizarem atividades em conjunto — é, no entanto, de evitar recorrer exclusivamente à televisão e as outras tecnologias. É mais conveniente que este seja o tempo de jogos de tabuleiro, trabalhos manuais, desenhos e leitura.
3. Conselhos gerais a ter em conta:
Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, resume os conselhos mais importantes, a começar pela necessidade de se dar nome ao que se está a sentir, mesmo que a emoção mais frequente em causa seja o medo. Crucial é também ficar ciente de alterações na respiração, uma vez que situações como a do surto de Covid-19 são propícias ao desenvolvimento de tensão física e de aceleração ao nível dos pensamentos. “Tudo isso faz parte. Conseguir dar nome à emoção e naturalizá-la é um passo muito fundamental para depois conseguirmos gerir a intensidade dessa emoção”, continua.
Outras ações concretas que podem ser aplicadas diariamente é aproveitar os múltiplos momentos em que se lava as mãos para se regular a respiração. Além disso, e considerando a fase de restrição em que Portugal se encontra, vale a pena perceber como se está a usar a alimentação para regular a ansiedade. Fugir de comidas processadas e de açúcares refinados é uma ideia a reter.
Considerando o eventual tempo de quarentena, Filipa Jardim da Silva destaca a oportunidade que poderá existir para realizar atividades que nos deem prazer e capazes de tirarem o foco de atenção do tema atual. “Há aqui um lado positivo que pode ser mais potenciado”, diz, referindo que este é um momento para cada atuar com maior confiança e compreensão sobre o que é possível fazer diariamente para ir gerindo o stress.
Fonte: https://observador.pt/2020/03/13/covid-19-o-que-podemos-fazer-para-gerir-o-stress-e-ansiedade-em-pleno-surto/